" Pelo hemisfério da esquerda, estende-se o Mar das Nuvens [Nubium], onde tantas vezes se perde a razão humana. Não muito longe, surge o Mar das Chuvas [Imbrium], alimentando-se por todos os dissabores da existência. Mesmo ao lado, afunda-se o Mar das Tempestades [Oceanus Procellarum], onde o homem luta incessantemente contra as suas paixões, tantas vezes vitoriosas. Depois, esgotado pelas decepções. as traições, as infidelidades e todo o cortejo de misérias terrestres, que vemos nós lá mais ao fundo? O vasto Mar dos Humores [Humorum], suavizado por algumas gotas de água do Golfo do Orvalho! Nuvens, chuvas, tempestades, humores, conterá a vida do homem mais alguma coisa, ou resumir-se-á a estas quatro palavras?
O hemisfério da direita, "dedicado às mulheres", encerra mares extensos, cujos significativos nomes comportam todos os incidentes de uma existência feminina. É o Mar da Serenidade [Serenitatis], sobre o qual se debruçam as jovens, é o Lago dos Sonhos [Lacus Somniorum], que lhes reflecte um futuro risonho! É o Mar do Néctar [Nectaris], com os fluxos de ternura e as suas brisas de amor! É o Mar da Fecundidade [Fecunditatis], o Mar das Crises [Crisium] e, depois, o Mar dos Vapores [Vaporum], cujas dimensões serão, talvez, demasiado exíguas e, por fim, o vasto Mar da Tranquilidade [Tranquilitatis], que absorveu todas as falsas paixões, todos os sonhos estéreis, todos os desejos insatisfeitos, e cujas vagas vão morrer tranquilamente no Lago da Morte [Lacus Mortis]!
Que estranha sucessão de nomes! Que singular divisão a dos dois hemisférios da Lua, unidos um ao outro como o homem e a mulher, formando uma esfera de vida transportada pelo espaço! "
A Volta da Lua
Jules Verne
[Este excerto é lindíssimo e tive de o partilhar... peço desde já desculpa mas tive de incluir os nomes originais dos mares e lagos, fazem mais sentido para mim...]
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